- Lembras-te do dia em que ele chegou?
A barba crescida, o barrete na cabeça... parecia o Che Guevara...achei que tinha ressuscitado. Fiquei tão assustada que desmaiei. Ou terá sido da injecção que me deram para me acalmar? Isso agora não interessa! Aqueles enfermeiros não me podiam ver contente! Ainda bem que já não estão por perto.
- Senhora, está enganada! Naquele dia era mesmo ele! Veio para a pedir em casamento...
- Que dizes, mulher? Não estás boa da cabeça! Ainda dizem que eu é que sou louca...
No dia em que me pediu em casamento, eu era uma senhora!
 Os cabelos, de louro natural, em breves caracóis caíam-me sobre as costas. Ele passeava os dedos entre os meus caracóis como se passeasse entre o milho louro do campo. Olhava-me com os seus olhos azeitona. Era por isso que o chamavam de "homem camaleão"! Já te tinha dito? Os olhos dele, expressivos e arrebatadores, mudavam de cor! Ficavam da cor da roupa que vestia! E se estivesse zangado?! Oh! Aí ficavam da cor do fogo!
Por isso eu me apaixonei por ele! E que paixão! Ia com ele para o fim do mundo!
Trazia nas mãos uma teara de diamantes. Eu tinha o vestido dourado de brocado, as plumas azuis do céu colocadas sobre os ombros e a teara sobre os cabelos louros...fui uma rainha!
- Minhas senhoras, está a anoitecer. Está na hora de voltarem aos vossos quartos!
- Malditos enfermeiros! Não deixam de me atormentar. Dominam os meus sonhos, a dormir ou acordada!