Wednesday, August 12, 2009

Homem camaleão ( Quem quer continuar a história?)

Amigos emocionalmente inteligentes, vamos todos continuar a história!
Aguarda-se um fim surpreendente.

O Homem Camaleão

Agora viúva, olhando-me no espelho, a cor da minha pele está de um cinzento-escuro, quase que diria roxa. A palavra viúva, só por si me causa repulsa, tal e qual a sua própria razão. Como uma fotografia mal tirada, bem escura, ultrapassada, melhor dizendo, fora de tempo, já encarnada.
Recordo o tempo em que o medo transformado em ira tornava a minha pele vermelha-escura, quase preta, na certeza de que a ironia da vida a torna tão injusta que nos impede de ver o branco das nuvens quando a surpresa navega como um barco que perdeu o rumo.
Nada mais me resta que chorar a perda e transformar o luto no vermelho, da viúva alegre e mostrar ao mundo a minha alma de baleia, que na sua grandiosidade abarca o verde do mar, repousa a alegria no amor absoluto e eterno entre o azul claro do céu e o castanho dourado do ouro.
- Que tolice, não encontro o vestido preto básico que fiz para ocasiões especiais, talvez porque esta não é uma ocasião especial. Está a chover! deve ser essa a razão. O vestido é de um singelo tecido de seda brocado de alentejoulas. Se não tenho vestido não posso ir.
- Senhora, está atrasada! Todos a esperam. Precisa de ajuda, minha senhora?
- Sim Rita, procuro aquele vestido, sabes, aquele que um dia eu vesti e parecia, quase linda. Pûs um sombreado bordeaux sob o preto e o tom camomila do meu cabelo tornou-se numa pérola cintilante que oscilou nos seus braços.
- Senhora, o seu vestido preto está aqui. Tem que se despachar.
- Mas, as minhas lágrimas vão...
-Deixe-me ajudá-la, são horas de irmos.
- E as lantejoulas?
- Este não é o vestido das lantejoulas, este é um vestido de caxemira azul turquesa que a senhora mandou fazer para esta ocasião, esperada à tanto tempo e todos a aguardam no salão. Ele também lá está.
- Ele também lá está? Então ele não...
- Não, penso que tudo não passou de um sonho...